Sumário
Introdução
A soja é considerada uma espécie originária da China, tendo relatos de que seu surgimento como plana domesticada ocorreu por volta do século XI a.C. Com o passar dos tempos foi disseminada para outros continentes, se tornando uma commoditie essencial para a economia de muitos países.
É possível afirmar que o cerrado brasileiro, por sua localização e características ecológicas próprias, possui uma grande importância para toda a sociedade brasileira e para as práticas de agricultura que ocorrem em seu entorno.
A soja tem se tornado uma das principais matéria-prima para a produção de biodiesel devido a sua disponibilidade, grande demanda no mercado nacional e a necessidade de produção de combustíveis sustentáveis do ponto de vista ambiental. Com isso, a crescente importância da soja para a produção de biodiesel requer que sejam elaborados trabalhos que busquem analisar a sua distribuição em um dos principais biomas do país, o cerrado.
A expansão da soja no bioma cerrado
Nos últimos dez anos, a expansão da agricultura ocorreu essencialmente sobre as áreas já antropizadas, onde o bioma do Cerrado possui ao menos 33,4 milhões de hectares antropizadas aptas para serem convertidas em áreas produtoras de grãos.
É preciso considerar que o biodiesel é produzido a partir de um amplo conjunto de produtos, tais como: óleos alimentares, óleos vegetais e gordura animal. Porém, o insumo mais utilizado para a produção de biodiesel é a soja, representando cerca de 70% de sua composição [1]
De acordo com dados produzidos pela empresa Agrosatélite Geotecnologias Aplicada, entre 2000 e 2014 a área agricultável no Cerrado expandiu cerca de 87%. É importante saliente que esta expansão ocorreu majoritariamente em áreas já antropizadas.
O principal motivo para este aumento foi a expansão do cultivo de soja. O cultivo de soja também expandiu para novas áreas da região que abrange os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, denominadas pelos pesquisadores como Matopiba. Na figura abaixo é possível visualizar a produção de soja em 2018, em hectares, nos estados abrangidos pelo bioma Cerrado.

Embora o estado de Mato Grosso ainda concentre a maior parte da produção de soja no país, é preciso salientar que nos últimos anos houve um aumento significativo da participação dos estados que compõem da região denominada Matopiba.
O país ainda possui uma grande quantidade de terras agricultáveis e, por conseguinte, um potencial de produção ainda maior de soja e biodiesel. Estima-se que até 2039 o país terá uma produção anual de 92,4 milhões de metros cúbicos de biodiesel, representando um crescimento de aproximadamente 58% comparado ao ano de 2020.
A soja e o biodiesel
O cenário para a produção de soja também é otimista. Estima-se que até 2039 a produção de soja tenha um crescimento de 63%, passando dos atuais 120,62 milhões de toneladas para cerca de 196,63 milhões de toneladas por ano. Os dados completos sobre o crescimento da produção de biodiesel e soja pode ser visto na tabela 1.
Cenários de ampliação da demanda por diesel e soja no Brasil até 2039.
Ano | Óleo Diesel (Milhões de M³) | Ano | Diesel (Milhões de M³) | Ano | Soja (Milhões de toneladas) | Ano | Soja (Milhões de toneladas) | |
2020 | 58,38 | 2030 | 74,34 | 2020 | 120,62 | 2030 | 155,85 | |
2021 | 59,81 | 2031 | 76,16 | 2021 | 123,09 | 2031 | 159,92 | |
2022 | 61,27 | 2032 | 78,02 | 2022 | 127,00 | 2032 | 164,11 | |
2023 | 62,77 | 2033 | 79,93 | 2023 | 130,43 | 2033 | 168,40 | |
2024 | 64,31 | 2034 | 81,88 | 2024 | 134,04 | 2034 | 172,81 | |
2025 | 65,88 | 2035 | 83,88 | 2025 | 137,59 | 2035 | 177,81 | |
2026 | 67,49 | 2036 | 85,94 | 2026 | 141,16 | 2036 | 181,97 | |
2027 | 69,14 | 2037 | 88,04 | 2027 | 144,73 | 2037 | 186,73 | |
2028 | 70,83 | 2038 | 90,19 | 2028 | 148,30 | 2038 | 191,61 | |
2029 | 72,56 | 2039 | 92,40 | 2029 | 151,87 | 2039 | 196,63 |
Mesmo com a grande expansão da produção de soja no Brasil, é preciso deixar claro que somente cerca de 50% do óleo de soja produzido no país é destinado para a produção de biodiesel atualmente sendo o excedente destinado para outros tipos de produtos.
Até 2014 o cultivo de Soja, Milho e Algodão no Cerrado ocupava uma área de cerca de 17 milhões de hectares. Este valor representa pouco mais de 8% da área territorial do Cerrado, estimada em 2.036.000 km² de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. Esta área representa cerca de 22% do território nacional.
Com o crescimento da produção de soja, biodiesel e com a implementação de novas tecnologias no campo, a área plantada no bioma Cerrado poderá se expandir de forma considerável por todos os estados que fazem parte deste Bioma. Esta expansão está baseada nas características físicas e locacionais da região, tendo temperatura, precipitação, altitude e relevo favoráveis para a cultura da soja. Outra característica importante é a disponibilidade de grandes áreas já convertidas com alta aptidão agrícola que podem ser utilizadas para o plantio de soja.
Umas das vantagens do Cerrado em comparação a outros biomas, principalmente ao bioma amazônico, é a possibilidade de expansão da agricultura sem a existência de tantas restrições ambientais e de logística. A mesma situação também acontece em relação a produção de biodiesel.
Em estudo realizado sobre a aptidão agrícola foi identificado cerca de 26,7 milhões de hectares com alta aptidão para a agricultura. Tratam-se de áreas sem restrição de declividade e altitude e que já tiveram suas áreas convertidas para pastagem e demais usos [2]
Quanto ao mercado consumidor para o biodiesel, estima-se que toda a produção seja destinada para o mercado interno. Cabe ressaltar que o biodiesel é comercializado por meio de leilões promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Com a demanda por biodiesel em constante crescimento, nos próximos anos poderá haver uma maior demanda por soja no mercado interno, expandindo a capacidade atual de produção deste óleo e consequentemente estimulando a ampliação da produção e da capacidade instalada.

De acordo com a ANP em 2019 a indústria brasileira de biodiesel teve uma capacidade instalada para a produção de 8,7 bilhões de litros/ano de biodiesel. Embora tenha produzido pouco menos de 6 bilhões de litros no ano passado, a tendência é que com a retomada do crescimento econômico tanto a produção quanto a capacidade instalada possam aumentar, resultado no surgimento de novas indústrias.
O aumento da demanda interna por biodiesel terá como um dos motivos a implementação da lei 13.263/2016, onde até 2020 a mistura de biodiesel ao óleo diesel poderá chegar até 15% [3]
Com isso, as perspectivas para os próximos anos é que a soja seja difundida para novas áreas do bioma Cerrado, impulsionada principalmente pela demanda de soja no mercado interno para a produção de biodiesel e para a exportação.
Referências consultadas
[1] CARRARO, Alecyr Reis; CÉSAR, Aldara da Silva; CONEJERO, Marco Antonio. Potencial para produção de biodiesel no Brasil. AgroANALYSIS, v. 38, n. 5, p. 21-22, 2019.
[2] FILHO, Arnaldo Carneiro; COSTA, Karine. A expansão da soja no Cerrado. Caminhos para a ocupação territorial, uso do solo e produção sustentável. São Paulo, Agroicone, p. p1-30, 2016.
[3] BRASIL. Lei n°13.263, de 23 de março de 2016. Dispõem sobre os percentuais de adição de biodiesel ao óleo diesel comercializado no território nacional.