Nordeste: região de contrastes

Introdução

Este texto é baseado no capítulo O Nordeste: região de contrastes do livro A Terra e o Homem no Nordeste publicado em 1963 por Manuel Correia de Andrade. A obra procura analisar as relações de trabalho no meio rural da Região Nordeste, acentuando as suas implicações sociais e as formas de uso e ocupação da terra, além de descrever as diferenças físico-geográficas que caracterizam a região, tais como vegetação, clima e hidrografia.

Tentativas de delimitação da região nordeste

Muitas foram as tentativas de delimitação da região nordeste a partir de seus aspectos naturais. Em uma das primeiras classificações, o Conselho Nacional de Geografia definiu, em 1941, os limites da região Nordeste desde o Maranhão até Alagoas.

Destaca-se que na época a SUDENE e o Banco do Nordeste tinham posições distintas quanto a extensão e abrangência desta região. Foi a partir de 1968 que o IBGE passou a definir a Região Nordeste como sendo compostas pelos estados do Piauí, Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Bahia.

Com a nova delimitação do IBGE, a região passa a ter uma área de aproximadamente 1.542.000 km². A partir dessa definição o autor passa a dividir o Nordeste em quatro grandes regiões distintas, são elas: Mata, Agreste, Sertão e Meio-Norte.

Zona da Mata

A Região de Mata é restrita às várzeas dos rios, ocupando pequena extensão somente no Rio Grande do Norte e na Paraíba.

Uma das características que marcam a Zona da Mata é o regime pluvial. Com índices pluviométricos mais elevados há a existência de uma rede hidrográfica mais expressiva com rios perenes e vegetação mais densa. Por se localizar nas áreas costeiras, pode-se mencionar que a Zona da Mata possui um intenso uso e ocupação do solo pelas atividades antrópicas.

A descaracterização sofrida ao longo dos pontos pode acarretar sérios problemas ambientais, principalmente os relacionados aos índices de pluviosidade na região.

O autor também afirma que a região da Mata e do Litoral Oriental pode ser considerada a mais importante do Nordeste porque é nela que se concentra a maior parte da população, assim como é nela que se localiza parte importante do parque industrial da região e das atividades agrícolas.

Agreste

O Agreste também pode ser considerado uma região de transição entre a Mata e o Sertão. Às vezes é um trecho bem característico em seus aspectos, mas em outras ocasiões podem ser confundidas com a Mata em seus trechos mais úmidos.

Agreste
Paisagem sertaneja: o chão seco e arenoso da caatinga / Foto: José Paulo Borges/Sesc São Paulo – Viver no agreste – Revistas – Online (sescsp.org.br)

Existem áreas do Agreste, como os municípios de Orobó e Bom Jardim, em Pernambuco que eram primitivamente cobertas pela Mata Atlântica e que hoje, devido aos processos antrópicos são classificadas como agrestinas.

Assim, ressalta-se que o Agreste é caracterizado por uma diversidade de paisagens, sendo considerado, por vezes, uma miniatura do Nordeste. Embora colonizada e explorada pela criação de gato, o Agreste é hoje, mais agrícola que pecuarista. É uma região voltada para a produção e abastecimento do mercado interno.

O agreste é considerado uma zona geográfica de transição. Fonte: https://www.estudopratico.com.br/

Sertão

O Sertão ocupa áreas maiores, totalizando cerca de 55% da região nordestina. Destacam-se as áreas de seca não são exclusividade apenas do Sertão. Estados como a Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte possuem mais de 90% de seu território composto pelo Sertão. Nesta região, a falta de água é considerada o principal obstáculo para a sobrevivência dos agricultores e animais nos períodos de maior estiagem. A vulnerabilidade a que está exposta esta região é decorrência da instabilidade climática, agravada pelos períodos de seca que ocorrem na região.

O texto também apresenta o sertão e o Litoral Setentrional como sendo consideradas as áreas mais extensas, ocupando aproximadamente 55% da região nordestina. O chamado Polígono das secas, inclusive, não ocupa somente o Sertão, mais outras áreas do território nordestino.

Meio-norte

O Meio-norte é a quarta sub-região nordestina tratada pelo autor. Localiza-se na porção oeste da região Nordeste, ocupando o estado do Maranhão e Piauí. É considerada uma grande área de transição entre as regiões norte e nordeste do país. Nesta área dominam os cerrados e as florestas dos cocais, drenadas por rios caudalosos e perenes, como o Parnaíba, Itapicuru, Mearim, entre outros. A vegetação predominante, mata dos cocais, também registra a ocorrência de vegetação característica do ambiente amazônico. A economia desta região se baseia na produção agrícola, no cultivo de palmito e produção de óleos extraídos de sementes, que utilizados na indústria cosmética. Entre os demais produtos também se destaca a produção de algodão, cultivo de arroz e cana-de-açúcar.

Distribuição da população

A distribuição da população nas quatro regiões geográficas do Nordeste ocorre de forma desigual. O Meio norte e Guiana Maranhense abrigam cerca de 16,6% da população da Região, o Sertão e Litoral Setentrional, 27,4% da população regional, enquanto que o Agreste possui cerca de 23,7% da população nordestina. A Mata e o Litoral Oriental estão cerca de 32% da população. Destes dados permitem afirma que a densidade demográfica é maior na última região e menor nas primeiras duas regiões descritas.

A Região Nordeste equivale a aproximadamente 10% do território brasileira, abrigando cerca de 20% da população do país. A maior parte do meio rural desta região é ocupada por atividades econômicas ligadas a agricultura e a pecuária.

Até os dias de hoje a região é caracterizada economicamente como tendo uma alta concentração de renda, o que contribui para a manutenção da desigualdade social. As condições do trabalho rural variam de acordo com a área e com a fertilidade do solo.

Assim como em outras regiões brasileiras, a estrutura fundiária nordestina é baseada na presença de grandes propriedades e no latifúndio, que acaba se beneficiando com a existência de subsídios capitaneados por meio de políticas de proteção do Estado.

As políticas de proteção e reprodução dos pequenos produtores ou agricultores ainda é considerada incipiente, o que dificulta a manutenção do crescimento da produção e a consequente melhora da qualidade de vida dos pequenos agricultores. Por outro lado, as grandes propriedades possuem capilaridade o suficiente para aumentar a sua produção e extensão, isso se deve às vantagens que os grandes proprietários, geralmente produtores de monocultoras, dispõem para negociar empréstimos e dívidas junto ao Estado.

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