O artigo intitulado Trabalho de campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? traz uma discussão sobre a importância das atividades de campo para os geógrafos, bem como os problemas envolvidos com esta ferramenta geográfica. Os autores também buscam discutem a importância do trabalho de campo para as pesquisas em geografia, e os perigos que rondam a sua banalização na Geografia atual.
Destaca-se que desde os primórdios da ciência geográfica, os trabalhos de campo já configuravam uma parte fundamental do método de trabalho dos geógrafos. A coleta de informações in loco era primordial para a geração de novos conhecimentos ou para a constatação de conhecimentos produzidos em laboratório ou em escritório.
Os autores enfatizam que a sistematização da geografia se deve ao conjunto de pesquisas e relatórios produzidos em campo através do trabalho de viajantes, naturalistas, entre outros. Foi nos trabalhos de campo que se deu a construção das bases que sustentaram o desenvolvimento da Geografia. Com o advento das diversas correntes do pensamento geográfico houve mudanças quanto a noção de importância do trabalho de campo para o fazer geográfico.
Observa-se então que o advento de uma nova corrente do pensamento geográfico nos anos 70 e o crescente uso das tecnologias impactaram em uma diminuição da importância e do número de trabalhos de campo na ciência geográfica, o que de certa forma contribuiu para a diminuição da geração de novos conhecimentos na Geografia.
É importante ressaltar que o grande desenvolvimento tecnológico experimentado nas últimas décadas mudou completamente tanto o trabalho de campo para obtenção dos dados relativos à representação do modelado da superfície, como a forma de tratamento e apresentação dos mesmos.
Para alguns geógrafos, o desenvolvimento de novas tecnologias de informação e comunicação torna desnecessária a realização de trabalhos de campo, dada a capacidade superior que tais tecnologias teriam no que diz respeito à obtenção de informações. Por tanto, a validação das informações em campo é primordial para a validação do conhecimento produzido.
O trabalho de campo se constitui uma ferramenta primordial para a geração de conhecimentos, porém, é considerado um momento do processo de produção do conhecimento que não pode prescindir da teoria. Sem uma articulação com a teoria, o trabalho de campo corre o risco de tornar-se vazio de conteúdo e incapaz de contribui para o conhecimento de fenômenos geográficos. Para os autores, campo só é válido se articulado com sistemas globais de interpretação da realidade. Com isso, é por meio da articulação das escalas que podemos efetivamente construir uma interpretação geográfica da realidade, indo do particular ao geral, e retornando a este, assim como da prática à teoria e vice-versa.
Observa-se então, que o trabalho de campo para a geografia é considerado inútil diante da ausência de teoria. Os autores citam a geógrafa Dirce Maria A. Suertegaray, que afirma que as novas tecnologias facilitam o trabalho de campo, porém sem um método não haveria produção de conhecimento.
Segundo esta autoria, o processo de pesquisa se caracteriza pela busca de respostas para perguntas instigantes, em um processo em que o sujeito e o objeto interagem, e onde o sujeito constrói o objeto e o objeto constrói o sujeito. E diante disso, depreende-se que o trabalho de campo contribui para que o geógrafo possa, além de aprender novos conhecimentos, saber mais sobre o seu objeto de pesquisa e ser influenciado por este objeto.
Outra passagem importante da autora Suertegaray e que precisa ser incorporada a este resumo diz respeito a importância do trabalho de campo como instrumento da análise geográfica. Para a autora, no positivismo o campo é externo ao sujeito e portador da verdade, consistindo o trabalho de campo essencialmente na descrição desta. Já no neopositivismo o campo também é realidade empírica, externa ao sujeito.
Além da sua utilidade para a geração de novos conhecimentos a nível acadêmico e científico, o trabalho de campo também pode ser utilizado como instrumento didático. Aqui se faz uma crítica sobre o desconhecimento da importância da ida a campo nas aulas de geografia, onde muitos professores denominam esta saída da sala de aula como apenas um passeio.
Além disso, não e somente o desconhecimento da importância do campo que impede com que esta atividade seja utilizada com frequência por profissionais e professores da área, mais o fato de muitos profissionais apresentarem limitações advindas da dicotomia sociedade natureza, em função basicamente da verticalização dos pesquisadores nas diferentes especialidades que compõem o escopo da Geografia. Além do entrave que esta dicotomia nutre na obtenção de conhecimentos por meio do trabalho de campo, também se constitui em um entrave para o desenvolvimento da própria Geografia.
Os autores também tratam dos riscos da banalização do trabalho de campo. Estamos passando por um momento onde os trabalhos de campo se multiplicam nas escolas e nas universidades, e onde são retomados nos encontros de geógrafos. Há um questionamento sobre uma retomada positiva de uma ferramenta tradicional no campo da Geografia ou se constitui tão somente uma banalização desta ferramenta. E cita a geografia do turismo, por exemplo, como uma área que se desenvolve mediante a mercantilização crescente da vida e do mundo, e onde há trabalhos de campo que se assemelham tão somente a uma ida ao zoológico ou safári.
Diante de todos os questionamentos sobre a importância e ao mesmo tempo a banalização do trabalho de campo, os autores afirmam que, embora o caminho para a integração não seja ainda evidente e as limitações metodológicas sejam dominantes, cabe aos geógrafos, com formação física ou humana, discutir as potencialidades desse reencontro, geografia física e humana.
É a partir do encontro destas áreas que novos conhecimentos geográficos, menos fragmentados e mais comprometido com as transformações socioespaciais, poderão ser construídos de forma mais acelerado, e por que não dizer, de forma mais verossímil por meio do trabalho de campo.
Se observa uma necessidade do geógrafo em tentar analisar os fatos por meio de uma visão mais horizontalidade, onde o trabalho de campo pode ser usado como instrumento para a validação da descoberta e constatação de novos conhecimentos. Assim, é por meio da interação do pesquisador com o seu objeto que o conhecimento poderá ser ampliado e aperfeiçoado.
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Referência
ALENTEJANO, Paulo RR; ROCHA-LEÃO, Otávio M. Trabalho de campo: uma ferramenta essencial para os geógrafos ou um instrumento banalizado? Boletim Paulista de Geografia. N: 84. São Paulo – SP, jul. 2006. p.51 – 68.