Surgimento e definição
Acredita-se que o ensino doméstico ou Homeschooling tenha começado a ser discutido enquanto processo de ensino a partir da década de 1970. Este movimento foi impulsionado por religiosos protestantes, que descontente com o ensino tradicional e preocupados em preservar as suas crenças começaram a lecionar e ensinar seus filhos em casa.
Especialistas afirmam que o homeschooling surgiu por volta do século XVIII nos Estados Unidos devido a falta de acesso à educação formal. Quem praticava esta modalidade eram escravos, que faziam parte de programas educacionais por correspondência.
Nesse sentido, o homeschooling ou ensino domiciliar é um movimento de pais de família e empresas na busca pelo direito de educar seus filhos em casa.
O homeschooling no Brasil
No Brasil, após um longo período de lutas pela aplicação da escolarização obrigatória gratuita para todos, o país se vê diante de uma nova problemática: a luta pelo direito a não frequentar a escola tradicional em detrimento de um estudo desenvolvimento em casa. Trata-se neste caso, de um questionamento da legitimidade do Estado em estabelecer, de forma compulsória a educação escolar, bem como um questionamento sobre o papel da escola.
Mesmo sem autorização, de acordo com a Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), estima-se que, atualmente existem mais de 11 mil famílias que educam crianças e jovens fora do ambiente escolar. Esse número pode aumentar de forma exponencial caso a proposta de regulamentação do ensino domiciliar seja aprovada neste ano pelo governo de Jair Bolsonaro. A ANED ainda afirma que a ampla maioria dos pais que adotaram ou que desejam adotar a Educação Domiciliar (ED) possuem Ensino Superior Completo ou já frequentaram uma instituição de Ensino Superior.
Entre as inúmeras razões apontadas por grupos que defendem o estabelecimento de uma educação escolar em casa, está a insuficiência da oferta formal de educação escolar no ensino público e privado, a baixa qualidade do ensino, a violência crescente no âmbito escolar e as facilidades com que as tecnologias tem propiciado o estabelecimento de uma rotina e de um ambiente de aprendizado no próprio domicílio do discente.
Porém, existem perguntas ainda não respondidas quanto a qualidade do ensino domiciliar, tendo em vista que os pais não podem preencher todo o conhecimento que os alunos poderiam adquirir em um ambiente escolar com a presença de professores qualificados em suas respectivas áreas de atuação.
Problemas do homeschooling
A crescente discussão sobre o movimento homeschooling trouxe para o debate uma discussão política dos problemas que este modelo de ensino pode representar ou até os problemas que podem ser solucionados com a sua implantação.
Questionada quanto a ausência de tratamento centrado na individualidade dos alunos e vista como doutrinadora de massa, a educação pública se vê em uma escalada pela regulamentação do ensino domiciliar.
Entre as muitas questões a serem levantadas sobre homeschooling cabe destacar seus impactos para o ensino de geografia e para o aprendizado de conteúdos e conceitos geográficos.
Será que o ensino domiciliar dará conta de promover todos os conhecimentos geográficos necessários para a formação de um cidadão capaz de analisar a realidade de forma crítica?
Compreender a dinâmica socioespacial, por exemplo, é uma tarefa complexa e problemática que envolve uma visão de campo e teórica de profissionais com experiência e com capacidade de identificar os atores que fazem parte da produção do espaço.
homeschooling, tecnologias da informação e geografia
É importante destacar que o desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação (TICs) aplicada a educação, tem surgido um conjunto de ferramentas capazes de auxiliar nos estudos, tais como: plataformas de divulgação de vídeos, aplicativos de mensagens, plataformas de aulas virtuais, entre outros.
Porém, a utilização destas ferramentas juntamente com a orientação dos pais não deve ser consideradas o suficiente para a promoção de uma educação em geografia em sua plenitude.
A utilização de vídeos e plataformas digitais, por exemplo, devem passar por uma avaliação do professor quanto a veracidade e qualidade dos conteúdos “ensinados”. A presença do professor, nestes casos, é fundamental para o bom aprendizado.
A presença real do professor e as possibilidades de se abrir uma discussão real sobre o que está sendo tratado é muito mais rica, fiel e satisfatória do que o simples “despejar” de conteúdos que o aluno da modalidade homeschooling está sujeito [1]
A preocupação é de que conteúdos de Geografia disponibilizados em plataformas virtuais como o YouTube estão repletos de “decorebas” e macetes, que tem como objetivo o ingresso em universidades por meio de vestibular ou em órgãos públicos por meio de concurso.
A utilização de vídeos e outros meios digitais já são utilizados por uma grande parcela dos alunos. Mesmo com os aspectos negativos, cabe aos professores orientar seus alunos quanto a melhor utilização destes meios, pois a tendência é a ampliação cada vez mais dos meios digitais de ensino aprendizagem.
É o professor o profissional responsável por possibilitar a cada aluno uma visão ampla do conhecimento e aproximar ao máximo este aluno da totalidade dos saberes que compõem o ensino de geografia.
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[1] CASTROGIOVANNI, A. C.; TONINI, I. M.; KAERCHER, N. A.; COSTELLA, R. Z. (Orgs.). Movimentos para ensinar geografia – oscilações. Porto Alegre: Editora Letra1, 2016, p. 117-132