qual o futuro da américa latina

Qual o futuro da América Latina?

Introdução

Este texto é um resumo das ideias de Armen Mamigonian, publicado pela editora Clacso/Universidade de São Paulo no ano de 2006, cujo título é: Qual o futuro da América Latina? O texto original pode ser encontrado aqui.

A visão europeia da América Latina

Os europeus nem sempre tiveram uma visão amigável em relação a América Latina, pois como se sabe, tiveram que destruir civilizações inteiras para implantar a sua cultura, modo de pensar e agir. Porém, mesmo após colonizar, ainda cultivavam um olhar de desprezo em relação a região.

De acordo com o autor a visão de europeus e norte-americanos sobre a América latina teve fases de agradável surpresa, como ocorreu nos anos 40 e 50 do século XX. Em 1941 Stefan Zweig, intelectual europeu recém instalado no Brasil, chocado com as destruições que o nazismo causava à Europa, surpreende-se com o país que o havia acolhido carinhosamente, publicando o clássico texto Brasil, país do futuro.

No período da primeira metade do século XX, houve uma janela de oportunidade para novas possibilidades de dinamização da América Latina. Com a crise de 1929 e a queda das importações europeias e norte-americanas dos produtos locais, o continente passou a viver uma intensa fase de crescimento interno. 

Até os anos 40 do século XX os países da américa latina, incluindo o Brasil, eram vistos como um “país novo” e, portanto, dinâmico, com futuro pela frente. Depois desse período esta imagem foi substituída por aquela de país subdesenvolvido, condenado a um destino duvidoso e talvez subalterno.

Os grandes projetos nacionalistas

Entre os anos de 1930 a 1980 grandes projetos nacionalistas e instituições contribuíram para fomentar o desenvolvimento e crescimento dos países da região, tendo destaque o planejamento e financiamento econômico, como a CORFO no Chile (1939) e o BNDE no Brasil (1952).

Outras instituições como o banco Avio, a CEPAL, a universidade UNAM, a USP e instituições de pesquisa como a Embrapa também tiveram grande importância neste período.

Todos estes avanços acabaram por desgostarem os países neoliberais, tendo início a adoção de medidas que começaram a estrangular financeira e comercialmente a região.  Surge aí a necessidade de um novo modelo regulatório econômico e social com vistas a frear o desenvolvimento da região.

É só liberalizar que vocês crescem, disseram os ricos.

A reorganização regulatória, necessária para a implantação do sistema neoliberal, é caracterizada por meio de privatizações, liberalização do comercio, desregulamentação, financeirização e ajustes no âmbito previdenciária.

Tais ações, se tornam benéficas para países que já alcançaram um nível de desenvolvimento econômico, tecnológico, institucional e social avançados. Países ainda em desenvolvimento não conseguem colher os frutos deste modelo, principalmente por que ainda não possuem empresas e instituições capazes de concorrer com os grandes grupos financeiros e empresariais já consolidados.

O Brasil foi um dos países que adotaram em certa medida as ações propostas por este consenso, carinhosamente chamado de consenso de Washington. Pode-se destacar a privatização de um grande número de estatais, principalmente a partir da década de 1990, além da atração de multinacionais e capital estrangeiro.

Na época a União conseguiu levantar recursos consideráveis com a venda, que mais tarde se provou uma ação maléfica para o país, principalmente porque não garantiu o desenvolvimento industrial e a criação de empresas nacionais o suficiente para que o país pudesse dar um salto tecnológico e industrial capaz de retirar o país da chamada armadilha da renda média e da diminuição das diferenças brutais entre as diferentes classes sociais.

Os avanços na região

O período de grandes avanços na América Latina observados em meados do século XX culminaram com a criação e implantações de importantes órgãos como o IBGE, a FGV e o CNPq. No campo da Geografia surgiram grandes nomes como Milton Santos, Aziz Ab’saber, Caio Prado Jr, entre outros. Estes autores produziam o que de mais avançado havia em conhecimento geográfico. No mesmo período a Europa passava por uma crise não somente econômica mais intelectual. O autor ainda afirma que,

Comparando com os intelectuais europeus e americanos que nas décadas de 40 e 50 demonstravam simpatias pela América Latina, como assinalamos anteriormente, a nova onda de intelectuais dos anos 90 aproveitou o processo de cooptação a que foram submetidos nos “trinta anos gloriosos” de crescimento econômico do capitalismo central, a queda da URSS, o peso das dívidas públicas que fragilizava nossos países, o patrocínio generoso dos seus patrões e passou arrogantemente a nos “ensinar” a sermos submissos ao FMI (MAMIGONIAN, 2006 p.4)

O golpe final do neoliberalismo

Os golpes neoliberais contribuíram para uma invasão de produtos estrangeiros, para a desindustrialização e o desemprego e para o aumento da dependência econômica do país pelos produtos primárias, tais como a exportação de minério de ferro e soja. Aliás, até a produção destes produtos, considerados primários, existem uma série de empresas estrangeiras que dominam a exportação destes produtos.

O protagonismo das empresas multinacionais nos diferentes setores agrícolas não é de hoje. A atuação destas empresas remete ao período colonial, onde por meio das metrópoles tinham a autorização para atuar em várias colônias.

É possível citar como exemplo a atuação da Companhia das Índias Ocidentais no Brasil já no século XVII. As multinacionais do setor agrícolas foram primordiais para a implementação da revolução verde na América Latina, onde se destaca a Rodada Uniguai do Gatt, que terminou em 1993 sendo um marco para o setor agrícola da região, pois permitiu o acesso a mercados externos, a criação de subsídios para exportação e produção agrícola. Este acordo também representou a entrada de grandes grupos multinacionais na América Latina.

Vai, pode voltar a depender só do setor primário.

Além do Brasil, muitos países da América latina têm visto um aumento da importância da agropecuária e de monoculturas na participação do PIB, o que tem contribuído para promover um processo de primarização da economia, pois historicamente é muito mais fácil para um país investir na produção de produtos de baixo valor agregado do que em produtos de alta complexidade tecnológica.

É nesse ambiente, que a produção agrícola começa a desempenhar diferentes funções, passando de um modelo de substituição de importações para um modelo orientado a divisão internacional do trabalho, impondo um processo de reprimarização da economia latino-americana.

Neste sentido, após décadas perdidas para a América Latina, o modelo neoliberal imposto pelos EUA aos países da região esgotou-se num grande desastre econômico-social, onde os países que a adotaram passaram por crises econômicas e sociais com aumento do desemprego e do processo de desindustrialização. Isso nos ajuda a entender sobre as questões principais que a autora trata no texto qual o futuro da américa latina.

Por que estudar geografia econômica é importante para nossos estudantes?

A compreensão das relações e ações que permitem o avanço do neoliberalismo é um exercício necessário e importante para a sociedade atual.

Compreender o neoliberalismo não é uma tarefa simples, porém quando feita com sucesso permite que ações que se desenvolvem no âmbito da cidade, tais como a securitização e a gentrificação sejam melhor compreendidas tanto em escala local quando global.

Para muito além da interpretação fria dos gráficos e dos índices de crescimento econômico, precisa-se analisar a influência da geopolítica dos países centrais para frear o desenvolvimento pleno dos países da América latina. É nesse sentido que entender de geografia, geografia econômica e geopolítica nos ajuda na compreensão destas questões, tais como o texto sobre qual o futuro da américa latina.

Escolha a opção mais adequada para citar este texto.

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