É possível afirmar que a cartografia surgiu por volta do ano de 2.500 a.C. quando foi confeccionado pelos Sumérios, o que é considerado o primeiro mapa da história: uma placa de barro cozido com inscrições em caracteres cuneiformes (escrita suméria). Porém, desde a antiguidade o homem já utilizava pinturas para representar o espaço ao seu redor.
História da cartografia: dos primórdios a atualidade
A cartografia tem por objetivo representar graficamente a superfície terrestre, seu produto final são os mapas que contribuem para o melhor estudo e conhecimento da natureza, da economia e de todas as outras ferramentas que movem o mundo.
Sendo a cartografia um dos ramos abrangidos pela geografia deve-se haver consistência nesse estudo, pois há um campo bastante amplo dentro dessa ciência. Os mapas possuem enorme importância há vários anos. Eles foram passando por reformulações e no decorrer desse tempo ganhando mais consistência e características próprias para cada objetivo [1]
As representações cartográficas de cada área se dão através de informações claras e objetivas representadas por símbolos, cores, e outros elementos.
Dentro da roupagem e do desenvolvimento de novos métodos chamados de geotecnologias, os profissionais das áreas de elaboração de mapas devem estar atentos também a outras áreas que irão interligar e enriquecer seu trabalho e seu conhecimento junto a cartografia, dentre essas áreas podem ser destacadas a fotogrametria, o sensoriamento remoto, a topografia e outros.
A cartografia como ciência também é intimamente ligada à geografia, e possuem grande importância em seu contexto, pois uma complementa a outra, onde ambas direcionam seus estudos aos aspectos físicos, humanos e econômicos da superfície terrestre.
A palavra cartografia foi introduzida pelo historiador português Manuel Francisco Carvalhosa, 2º Visconde de Santarém, numa carta datada de 8 de dezembro de 1839 e endereçada ao historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen.
Definição e classificação da cartografia
Para que se entenda a cartografia é necessário que compreenda a mesma como uma ciência da qual se utiliza ferramentas para a representação gráfica em escala reduzida, mas que evidencie visível e claramente a configuração da superfície terrestre.
O cartógrafo tem como principal instrumento de trabalho o mapa, porém há vários outros tipos de representação que também podem ser tratados pela cartografia, como os globos, as fotografias aéreas, etc.
Na elaboração de um mapa vários itens devem ser levados em consideração para que se atinja o resultado esperado. Esses itens são: a escala; o sistema de projeção sobre o qual se desenha o mapa; os elementos representados por símbolos, como por exemplo, as cidades e estradas; o letreiro; o título; ano de elaboração do mapa e autor.
A classificação dos mapas se dá pela escala e pelo assunto:
- Mapas gerais:
- Mapas topográficos em grandes escalas, com informações gerais.
- Mapas geográficos que representam grandes regiões, países ou contingentes, em pequena escala (os atlas pertencem a esta classe).
- Mapa mundi.
- Mapas especiais:
- Mapas políticos.
- Mapas urbanos (plantas cadastrais).
- Mapas de comunicações, mostrando estradas de ferro, de rodagem, etc.
- Mapas científicos de diferentes classes.
- Mapas econômicos ou estatísticos.
- Mapas artísticos para ilustração de anúncios ou propagandas.
- Cartas náuticas e aéreas.
- Mapas cadastrais, desenhados em grande escala e que representam as propriedades e áreas cultivadas, etc.
- Mapas políticos.
Mapas e manuscritos
Se a história for pensada como uma documentação escrita sobre os fatos passados, considera-se que os mapas são ainda mais antigos que a mesma, pois a confecção dos mesmos antecede a escrita. Esse fato foi comprovado por muitos dos exploradores dos povos primitivos que dizem que embora eles não tivessem chegado ainda à fase da escrita já possuíam a habilidade de traçar mapas.
Há vários mapas pré-históricos conhecidos. Talvez os mais interessantes sejam as cartas feitas por nativos das Ilhas Marshall, que eram formadas por conchas e ligadas por um entrelaçado de fibras de palma. Após um longo tempo de estudos dessas figuras curiosas, os antropólogos descobriram que estas cartas se tratavam de um guia para a navegação.
Essas cartas mostraram que a obra dos povos primitivos não era nada simples, pois chegavam a ser mais complexas que as cartas modernas.
Há também vários outros mapas conhecidos da antiguidade, dentre eles estão os mapas esquimós, mapas astecas, mapas babilônicos e mapas chineses, cada um evidenciando de sua forma aspectos históricos e culturais de sua sociedade. Na figura abaixo é possível visualizar um dos mapas mais antigos, o mapa da Ga-Sur.

A Cartografia durante a Idade Média
Durante a idade média houve a interrupção do desenvolvimento de todas as ciências. A cartografia foi uma das tantas ciências afetadas nesse período da história da humanidade, onde tudo era regido conforme os preceitos religiosos da Igreja Católica.
Na Europa tornou-se comum naquela época representações muito simbólicas do mundo, como o mapa T no O, que é bem simples resumindo-se simplesmente na inserção da letra “t” por dentro da letra “o”.

Porém, assim como hoje em dia o mundo não era totalmente cristão, havendo lugares onde se pensava e se agia de maneira diferente dos ideais da Igreja Católica que predominava em certas localidades.
No mundo árabe, por exemplo, as coisas funcionavam de formas diferentes, e com a tradição de ser um povo viajante ajudou a cartografia a se desenvolver, foram feitos estudos específicos sobre a Geografia dos lugares visitados pelos árabes, levando à elaboração de mapas que não só facilitavam a realização de suas viagens, como também levavam ao entendimento da orientação que se fazia importante para reconhecer em qualquer lugar a direção de Meca.
No século XII Al-Idrisi (1100-1165 ou 1166), elaborou um mapa mundi gravado em prata, solicitado pelo Rei Roger II da Sicília. Era um mapa com muitos detalhes, e que trazia o mundo na visão árabe, se contrapondo às imposições da Igreja em suas formas e divisões políticas.
A cartografia no Renascimento
Após a Idade Média, foram muitos os fatores relevantes no desenvolvimento da cartografia. A redescoberta de Ptolomeu traduzindo para latim a sua obra Geografia no ano de 1405 trouxe aos europeus a possibilidade de estudar o mundo, tentando obter informações que lhes foram sonegadas durante séculos aos povos cristãos através dos mapas que continham.
Um dos mais importantes nomes da cartografia mundial nesse período foi Gerhard Kremer, ou Mercator, como era mais conhecido, ele foi considerado como o pai da cartografia moderna, nasceu em território flamengo no ano de 1512, estudou Geografia, Geometria e Astronomia, tornando-se conforme a visão dos historiadores um exímio cartógrafo, por ter desenvolvido importantes estudos que o levaram até a elaboração de mapas de inestimável valor e uso prático.
Usando a projeção cilíndrica, Mercator confeccionou um mapa mundi em 1569, nele foram reproduzidas as costas da América Central e uma representação mais exata da Ásia incluindo o sudeste desse continente. Neste mapa as linhas de meridianos e paralelos formavam ângulos retos, ou seja, os meridianos aparecem como linhas retas perpendiculares ao Equador.
Assim, se deu a disseminação da projeção cilíndrica pelo mundo, mesmo com as distorções de área que a mesma provoca em especial nas regiões polares.
Assim como no Brasil, os portugueses utilizaram suas práticas colonialistas apoiadas nas atividades náuticas, eles continuaram produzindo cartas náuticas necessárias para a navegação oceânica e elaborando cartografias terrestres dos territórios conquistados.
É importante considerar que no século XX e início do século XXI o Brasil e muitas nações emergentes têm conseguido uma boa aproximação científica e tecnológica com o mundo mais desenvolvido, tendo contribuído, para isso, a disseminação dos conhecimentos na área da Cartografia, através dos encontros científicos nacionais e internacionais promovidos pelas entidades que organizam a Cartografia Sistemática e as publicações de suas pesquisas [2]
A cartografia no Brasil
A história da cartografia brasileira possuí uma estreita relação com Portugal. Sabe-se que em 1500 o Brasil já estava representado no mapa mundi de Juan de la Costa, e que em 1519 um trabalho de Lopo Homem, Pedro Reinel e Jorge Reinel, que recebeu nome de Terra Brasilis trouxe uma representação do desmatamento para a retirada do Pau-brasil, sendo este o nosso primeiro mapa temático.
O progresso da cartografia no Brasil no período republicano se deu por inúmeros fatos, donde podemos destacar a elaboração da Carta Geral da República pelo Estado-Maior do Exército em 1896. Logo após foi criada a Comissão da Carta Geral do Brasil em Porto Alegre que tinha como missão organizar a Cartografia Sistemática terrestre.
Já em 1938, foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que foi o resultado da fusão do Instituto Nacional de Estatística com o Instituto Nacional de Geografia. Um dos projetos desse novo órgão foi a determinação das coordenadas de cidades e vilas com a utilização da radiotelegrafia e as campanhas dos mapas municipais.
A partir dos anos 70 começaram a ocorrer os mais importantes avanços na cartografia mundial, apoiados, sobretudo, na introdução do que mais tarde chamaríamos de geotecnologias.
Atualmente a cartografia no Brasil e no mundo passa por uma crescente utilização das geotecnologias nos fazeres cartográficos, onde os mapas analógicos estão sendo substituído pelos mapas digitais, geralmente produtos finais do geoprocessamento que é feito com o uso de fotografias aéreas digitais, imagens de drones e imagens de satélite que são cada vez mais precisas e detalhadas.
A partir da história da cartografia, percebe-se que a cartografia é uma ciência essencial para a humanidade, pois através dela temos as informações e os nortes de todas as áreas da vida humana. Através dela podemos nos localizar utilizando seus mapas que facilitam o entendimento dos dados quantitativos e qualitativos de aspectos físicos, econômicos e sociais.
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Referências Bibliográficas:
[1] RAISZ, Erwin. Cartografia Geral. 2. ed. Tradução de Neide M. Schneider e Pericles Augusto Machado Neves. Revisão de Celso Santos Meyer. Rio de Janeiro: Editora Científica 1969. 414p.
[2] CARVALHO, Edílson A. de; ARAÚJO, Paulo C. de. Leituras cartográficas e interpretações estatísticas I: História da Cartografia. Natal: EDUFRN, 2008. 248p.