A enchente é caracterizada como a elevação do nível da água de um canal de drenagem devido ao aumento do escoamento, atingindo a cota máxima do canal. Na inundação ocorre o transbordamento das águas atingindo a planície de inundação ou a várzea do córrego.
No Brasil, há diferenças quanto a definição dos termos: cheia, enchente, enxurrada, inundação e alagamento. Devido a grande diversidade de termos, há divergências e até uma certa confusão quanto à definição e caracterização das inundações.
As enchentes e inundações vêm fazenda parte da história da humanidade há séculos. Nos últimos anos, o número de ocorrências e o número de pessoas afetadas vêm aumentando significativamente. Este aumento está acompanhando a tendência relacionada a todos os tipos de desastres naturais. Este fato pode ser atribuído às alterações antrópicas, principalmente relacionadas como a intensa e desordenada urbanização, ocupação de áreas de risco e desmatamento [1].

Louvain, Belgium (2004) apud GOERL e KOBIYAMA (2005).
Enchente são grandes volumes de chuvas que ocorrem nos rios. Geralmente causam verdadeiros desastres, provocando perdas na agricultura, pecuária e também vidas humanas. As enchentes não são particularidades dos países tropicais ou com grandes volumes pluviométricos. Estes fenômenos naturais são tratados com seriedade em vários países, onde são construídos diques, modificado a direção dos leitos fluviais e construção de planos de controle de águas pluviais e fluviais em ambiente urbano [2] e em áreas com grande concentração populacional.
As enchentes, decorrentes de chuvas torrenciais, problemas de escoamento de águas pluviais e problemas urbanos, possuem como principal resultado o alagamento de grandes porções de terras. Ressalta-se que as áreas alagadas são produtos da inundação que ocorre logo após uma enchente.
As inundações no Rio de Janeiro confundem-se com sua própria história, onde há relatos de poetas e jornais antigos sobre a ocorrência de grandes enchentes já no período colonial. Porém, os registros de inundações e precipitações só iriam ocorrer de forma confiável a partir de 1851.
Cabe ressaltar que a ocorrência de enchentes era um problema a ser revolvido mesmo antes do surgimento de grandes adensamentos populacionais irregulares na cidade do Rio de Janeiro. Isso demonstra que a resolução de problemas relacionados a estes problemas passam pelo crivo de um projeto estrutural que considere todas as variáveis ambientais e sociais na resolução destes problemas.
No Rio de Janeiro as inundações possuem maior probabilidade de acontecerem nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março. Nestes meses o índice pluviométrico é muito maior se comparado com os demais meses do ano. Além de saber os meses com maiores indíces pluviométricos, com o advento da informática e da geomática se tornou possível mapear as áreas com probabilidades de ocorrência de enchentes e inundações, conforme exemplo abaixo.

Mesmo com a ampla quantidade de dados o conhecimento do comportamento meteorológico de longo prazo ainda é muito pequeno devido ao grande número de fatores envolvidos nos fenômenos meteorológicos e à interdependência dos processos físicos a que a atmosfera terrestre está sujeita. Por isso, é possível afirmar que os meses mais chuvosos são os mais propícios para a ocorrência de enchentes, porém ainda não se pode afirmar com exatidão a ocorrência de uma enchente [3].
A primeira inundação gerada por uma enchente histórica que se tem notícia ocorreu no século XVI. No século XVIII destacam-se as enchentes de 21 para 22 de setembro. A documentação desta enchente foi registrada com detalhes, pois coincidiu com a invasão dos franceses ao Rio de Janeiro.
Também existem notícias de que uma grande chuva, precedida por ventos fortíssimos, atingiu o Rio de Janeiro no ano de 1756, a partir das 13 horas do dia 4 de abril. Totalizando três dias de fortes chuvas, os registros indicam que as tempestades provocaram inundações em toda cidade e desabamentos de casas, deixando muitas pessoas desabrigadas e alguns mortos. […]. No século XIX aconteceram várias enchentes no Rio de Janeiro. A principal delas foi a de 10 a 17 de fevereiro de 1811, conhecida como “Águas do Monte”, pela destruição no morro do Castelo, quando desabaram várias casas, muralhas e barracos, deixando sobre as ruínas inúmeras vítimas [4]
Os diversos relatos de enchentes e inundações que ocorrem ao longo da história do Rio de Janeiro exemplificam que a gestão de águas pluviais urbanas sempre foi um gargalo a ser corrigido, pois nos períodos mais secos havia falta de água, enquanto que nos períodos de maiores índices pluviômetros havia uma abundância deste recurso.
Os problemas envolvendo a água só aumentam com o passar dos anos, pois houve um intenso processo de expansão da malha urbana, ocasionado por um grande processo de migração para a cidade. A expansão do perímetro urbano com a criação de novas ruas e bairros agravaram os problemas ambientais envolvendo a água, principalmente por que esta urbanização ocorreu de forma desordenada.
Urbanização e o agravamento das enchentes
É possível afirmar que a urbanização do Rio de Janeiro, contribuiu para um aumento, e não à diminuição, das enchentes e inundações históricas que ocorreram ao longo do século XX. Entre os problemas de uma urbanização desordenada estão a canalização dos rios, aterros e construções em áreas alagadas e construções em áreas com declive acentuado. Estes são alguns dos exemplos de uma urbanização precária que não é privilégio somente da cidade do Rio de Janeiro, como também de outras cidades brasileiras.
O processo de favelização de grandes áreas do Rio de Janeiro também foi outro fator que contribuiu para o agravamento das enchentes e do deslizamento de terras em áreas antes susceptíveis a movimentação de massa.
Quanto a favelização do Rio de Janeiro ainda é possível afirmar que o processo de favelização do Rio de Janeiro se estende até o início do século XX, quando se ampliou com a reforma urbana proposta pelo governo municipal de Pereira Passos (1903- 1906). Este governo, apoiado pelo governo federal do presidente Rodrigues Alves, atacou severamente as habitações coletivas (cortiços ou estalagens) na área central, onde se concentravam as atividades econômicas da cidade. O espaço urbano carioca foi reestruturado (construções do novo porto do Rio de Janeiro, de largas avenidas, de belos parques, de novos edifícios em estilo eclético, etc) dentro dos moldes das cidades europeias capitalistas, visando uma condição de status de capital do país e de principal ponto de articulação com os centros nervosos do capitalismo mundial nessa época [5].
O aumento expressivo da densidade urbana, a partir de 1940, foi responsável por mudanças significativas nas condições atmosféricas locais, conduzindo os aumentos de temperatura e pluviosidade, principalmente no verão. E ainda aliado às condições físico-topográficas da cidade, as mudanças socioambientais ainda respondem pelas mudanças climáticas percebidas nos dias atuais [5].
Além de uma descrição da ocorrência das principais enchentes, ainda é possível apresentar a cidade do Rio de Janeiro sob o olhar de fotógrafos que trabalhavam nos períodos de ocorrência das enchentes e inundações em toda a cidade [4].

Norte (Tijuca) e Centro da cidade, tradicional ponto de alagamento

derrubadas pela força das águas.
Nestas fotografias é possível notar que o Rio de Janeiro passou e continua passando por momentos de grandes inundações. Os documentos e fotografias da cidade que já foi capital do país mostram a realidade vivida por gerações de brasileiros, onde casas e prédios foram destruídos, vidas vitimadas e onde o meio ambiente fora substituído por um imenso adensamento de prédios e casas.
Referências
[1] GOERL, Roberto Fabris; KOBIYAMA, Masato. Considerações sobre as inundações no Brasil. XVI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, 2005.
[5] Cambra, M. F. E. S., & Netto, A. L. C. (1997). A cidade do Rio de Janeiro e as chuvas de março/93:(Des) organização urbana e inundações. Anuário do Instituto de Geociências, 20, 55-74.
[2] GUERRA, Antônio Teixeira. Novo dicionário geológico-geomorfológico. 7° ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.
[4] MAIA, Andréa Casa Nova. Imagens de uma cidade submersa – o Rio de Janeiro e suas enchentes na memória de escritores e fotógrafos. Revista Escritos, Ano 6, n°6, p.247 – 274. 2012.
[3] TUCCI, Carlos E.M. Gestão de Águas Pluviais Urbanas/ Carlos E. M.Tucci – Ministério das Cidades – Global Water Partnership – Wolrd Bank – Unesco 2005.
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